Em um mundo silencioso






Conheça a história de Gabriela Araújo Bezerra. Uma garota de 21 anos que lida com a realidade de, aos poucos, estar perdendo a audição.


Há cerca de um ano, Gabriela Araújo Bezerra, 21 anos, estudante de Administração de Empresas, começou a perder a audição. “Eu era recepcionista de uma firma e percebi que não estava mais ouvindo os clientes, fui ao médico e ele disse que eu estava perdendo a audição”. Os especialistas acreditam que o que aconteceu esteja relacionado a alguma condição genética por incompatibilidade sanguínea dos pais. Mas o caso é que Gabi, como é conhecida na TV Cultura de São Paulo, onde trabalha, hoje tem 47% da audição e um dia poderá não ouvir mais nada.


Seu irmão mais novo é surdo (ela explicou que quem nasce sem ouvir é surdo e quem perde a audição, por qualquer motivo, é deficiente auditivo). Ele estudou numa escola pública especial para surdos, mas só até a oitava série. Não há escolas desse tipo com ensino médio. “Dá até vergonha”, desabafa.


Por conta de querer se comunicar com o irmão, ela aprendeu, ainda menina, a libras (linguagem brasileira dos sinais) e brinca que ninguém é melhor em libras do que ela! E como para tudo se acha um lado positivo, ela diz: “Tem uma vantagem em não ouvir, a gente não ouve bronca, nem buzina...”


A relação com o meioOlhar pra Gabi com pena, ou a tratá-la como se fosse inferior é algo que a irrita profundamente e, sim, isso acontece. “Tive uma chefe que me tratava como se eu fosse nada, eu tinha muita raiva disso”. Por essas e outras, ela prefere sair com a sua turma de amigos com a mesma deficiência, assim sente que está promovendo a inclusão. “Na faculdade, todos meus amigos são ‘ouvintes’ (que é como os deficientes auditivos chamam quem ouve), mas eu prefiro sair com meus amigos surdos!”


Os deficientes auditivos paulistanos têm points de encontro organizados: sextas à noite no Shopping Tatuapé, sábados no Shopping Metrô Santa Cruz e domingos no Shopping Internacional de Guarulhos, isso é que é network...


Bem humorada, Gabi conta que namora há mais de dois anos um intérprete profissional de libras e eles fazem muitos planos juntos.Na hora de sair, ela gosta de cinema e viagens com os amigos, mas o que mais gosta de fazer é produzir apresentações culturais de deficientes auditivos. “Assim as pessoas vão vendo do que a gente é capaz”.


Daqui para frente Gabi sabe que a sua deficiência está em evolução, e, apesar de preparada para o que está por vir, é difícil não se sentir um pouco triste. “Hoje, ainda consigo ouvir música, mas um dia não vou ouvir mais”. De qualquer maneira, ela sonha com um mundo adaptado, onde todos os programas de TV tenham close caption (aquela legenda em tempo real), as pessoas procurem conhecer o universo de quem é diferente delas, e os deficientes usem suas limitações como alavanca pra seguir em frente e ir bem longe!
Entrevista Não Esclusiva
Fonte: IG Jovem

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