Câncer na Adolescência

Veja como três jovens enfrentaram a doença e continuaram sorrindo


O câncer transforma células normais em outras que se comportam de maneira diferente, crescendo de forma desorganizada e em limites anormais. Apesar de ser mais comum em adultos e idosos, jovens e adolescentes não estão livres desse mal; mas precisam de tratamento especial por terem tumores geralmente diferentes dos que aparecem nos adultos.
Priscilla Souza, 24 anos, já teve câncer duas vezes. Não se lembra muito bem da primeira, porque tinha apenas 7 meses. Logo que nasceu já desenvolveu a doença, descoberta por sua avó no meio de uma brincadeira. “Eu não tinha reação nenhuma no olho esquerdo”, conta. Ela precisou fazer radio e quimioterapia até os dois anos de vida, colocou uma prótese no olho esquerdo e fez várias cirurgias reparadoras. “O retinoplastoma ataca a retina e pode cegar se não for cuidado a tempo”.
Já da segunda vez, quando tinha 19 anos, esses tratamentos não adiantaram. Descobriu quando começou a sair sangue da urina. No início, câncer nem passou por sua cabeça, cogitou apenas a possibilidade de estar menstruada, até que a situação piorou de vez e o fluxo de sangue aumentou. “Eu tive que retirar toda a minha bexiga e colocar uma neobexiga, feita com uma parte do intestino. Passei seis dias sem comer nada para ver se tudo funcionaria normalmente”, lembra.
Após cinco meses de pesquisa em mais de treze médicos, o câncer de Mauricio Ornellas, 18 anos, foi descoberto em um grau muito avançado. Ele teve um tipo raro de linfoma (doença que se manifesta nos gânglios linfáticos, localizados no pescoço, na virilha e nas axilas) aos 15 anos, que se estendeu por todo o abdômen e parte da virilha.

O tratamento foi extremamente pesado e intenso. O cabelo caiu, não havia mais sobrancelha e até a unha parou de crescer. Foi um choque muito grande. “Por onde eu passava, chamava atenção. Para completar, ainda tive que usar máscara durante todo o tratamento. Imagine um careca, sem sobrancelha, usando máscara”, brinca.

Apesar da desenvoltura para falar sobre o assunto, o sofrimento foi muito grande. “A pior parte é quando começam a cair tufos de cabelo. Como eu tinha uma amiga que fazia os tratamentos junto comigo, fiquei com dó dela por ser mulher. Deve ser muito pior”, revela.

Os cabelos de Noele Leão, 20 anos, continuaram onde estavam, mas isso não significa que a tranquilidade reinou durante todo o processo, principalmente quando o primeiro médico deu a notícia de que a saída era mesmo amputar o dedo. A história começou com o surgimento de uma bolinha vermelha proeminente no polegar. Tudo parecia inofensivo até que, durante a plástica estética para tirar a verruga, o cirurgião percebeu que aquilo era bem mais sério do que parecia. Duas opções foram dadas: retirar uma boa parte do dedo ou amputá-lo de vez. “É claro que decidi tirar só uma parte, mas fiz enxerto extraindo tecido do dedo médio”, declara.

Até os 14 anos, Noele não fazia a mínima idéia do que era oncologia e nunca havia escutado a palavra “sarcoma” (tumor em tecidos, ossos, vasos sanguíneos ou músculos). O médico afirmou que sarcoma epitelióide era o grande problema e, curiosa, não hesitou em pesquisar na internet. Pode ser um jeito cruel de descobrir que se tem, de fato, a doença, mas foi exatamente assim que aconteceu. O mal não tinha nenhuma origem hereditária, entretanto, a família decidiu esconder a notícia com receio de que a menina relacionasse seu caso com os dois cânceres de sua avó, que faleceu na mesma época. “Não fiquei com raiva dos meus pais, mas queria que eles tivessem me contado. Minha família me deu toda a atenção possível, porém sem falar sobre o assunto”, conta.
Muitas vezes, a família tenta adiar a verdade ou o doente recusa o tratamento. É como se pudessem escapar da realidade. “A possibilidade da morte, embora exista para todos, é muito marcante e difícil de ser enfrentada, especialmente na adolescência, momento de fazer escolhas e de definir projetos e sonhos. Alguns evitam usar a palavra câncer justamente pela carga de condenação que ela traz”, afirma a psicóloga Mariana Pucci, que já atuou na área de Psicologia Hospitalar com atendimento junto à Oncopediatria.

Mauricio e sua família fizeram tratamento terapêutico durante todo o processo. “Neste contexto, o atendimento psicológico pode ser de extrema importância, pois ajuda a encarar a doença e a reorganizar a vida em uma nova realidade”, explica Dra. Mariana. “O acompanhamento psicológico pode se estender também depois da alta, pelo medo de uma recidiva ou pelas marcas que deixa”, conclui.

Por mais que a notícia seja dura, é importante que o adolescente saiba o que ocorre com ele. “Nesse momento, é preciso ser carinhoso, humano, estimular o paciente, elogiá-lo, reconhecer que é complicado e jamais mentir. Assim, o médico facilita o relacionamento”, declara Sergio Petrilli, oncologista e superintendente geral do GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer).

É essencial se informar bastante sobre o assunto com o médico, procurar a opinião de vários profissionais e ser otimista. Priscilla admite que, apesar do medo de que o câncer apareça em sua vida pela terceira vez, ninguém pode desistir de viver. “Prefiro pensar que tudo é fase, é passageiro”. Mauricio garante que aceitar a doença é o melhor a se fazer. “Olhe para ela não como um problema, mas como um inimigo que você deve lutar contra. O segredo é sorrir e estar sempre de bom humor. Metade do tratamento é você e sua auto-estima, confie em si mesmo”, completa.
Fonte : IG Jovem

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